sexta-feira, 28 de julho de 2017

Mademoiselle Lenormand.



Não existe uma fonte confiável que possa comprovar que de fato mademoiselle Lenormand criou o baralho que leva seu nome, na verdade diz-se que ela usava um baralho de 52 cartas e este conhecido como baralho cigano foi propagado pelos ciganos depois de mais ou menos cinquenta anos depois de sua morte e diz-se que foi inspirado em seus muitos manuscritos e livros autobiográficos. Existem muitas dúvidas sobre sua real biografia, até mesmo porque ela escreveu sua própria história e existem controvérsias sobre muitos dos fatos por ela descritos nos livros.  Este texto abaixo foi por mim traduzido de um site francês, texto original de Marc Allegrét ”Revue du souvenir Napoéonien – nº 499 Novembre- décembre 2003.

Anne Marie Adelaïde (1772-1843)
A cartomante mais célebre de sua época. Filha de um comerciante de tecidos, ela nasce em Alençon ( Orne ) 27 de Maio de 1772. Ela é educada em um colégio de freiras beneditinas até 1780 e depois aprende línguas, desenho, pintura e música.
Ela contaria mais tarde que fazia previsões sobre o futuro de suas jovens colegas. Torna-se órfã muito cedo, na idade de cinco anos e sem recursos ela trabalha como aprendiz de uma costureira em Alençon e depois caixa de uma boutique de lingerie. Atraída por Paris ela chega à capital na véspera da revolução. Depois de ter trabalhado para um comerciante de tecidos, ela se torna leitora do conde d’Amerval de la Saussotte.
Em 1789, ela prediz ”mudanças na constituição do clero e o fechamento dos conventos.” Percebe que tem a ver com circunstâncias políticas, e não teria nada de verdadeiramente premonitório.
Em 1790, mademoiselle Lenormand vai a Londres, para consultar o célebre doutor Gall (1758-1828, inventor da ”phrénologie” um estudo do crânio). Este que, após ter apalpado por longo tempo seu crânio e concluiu que ela seria uma grande adivinha. Disse a ela que seria a maior sibila da Europa.
Retornando a Paris , ela encontra duas pessoas que vão orientar seu futuro: A cidadã Louise Françoise Gilbert, cartomante que lhe ensina o ofício e Flammermort um jovem padeiro. Desde então ela renuncia ao seu emprego como leitora e se associa a eles se instalando na rua de Tournon (Paris 6eº) no nº5, por um aluguel de 900 francos por ano, onde ela trabalha no andar térreo, um escritório de escrivão, com uma placa escrita ” Cabine de correspondência. ”
Flammermont se ocupava das provisões das damas e distribuía os panfletos que descreviam os talentos de Mlle Lenormand, transformada em ”jovem americana que tinha atravessado o oceano para beneficiar os franceses com seus talentos excepcionais.”
Nesta mesma rua de Tournon no nº9, vivia Jacques René Duchesne, igualmente nascido em Alençon. Mlle Lenormand o encontra na ocasião e pensava que ele poderia eventualmente a ajudar em caso de dificuldades com os jacobinos. A cabine da adivinha prospera muito rapidamente e ela lia o futuro principalmente através do tarot e da borra de café. Ela ocupava o térreo de seu imóvel, a parte de trás do tribunal. Os consulentes esperavam na sala ansiosos e pacientes. A porta se abria e a sibila aparecia, de estatura mediana, magra, a cabeça curvada aos ombros. Flammermont fora transformado em meirinho, todo vestido de preto e introduzia os primeiros clientes no quarto santuário da adivinha. Ele dizia aos consulentes: ”Queres uma consulta de 10, 40 ou 80 francos? Depois que o cliente escolhia a tarifa, ela embaralhava as cartas, os fazia cortar, depois ela examinava longamente a palma de sua mão esquerda. Em seguida ela fazia algumas perguntas, inicial do primeiro nome, lugar , data e hora de nascimento, flor, animal e cor que a pessoa preferia, a primeira letra da cidade onde morava. Enfim, depois de um longo momento de recolhimento, ela formulava a análise psicológica e a predição.
Seus dons de vidência ou de penetração psicológica a tornam famosa. Hebert, Camille Desmoulin, Danton, Barère, Marat, Saint-Just e Robespierre vem a consultar. Entretanto, em 1793, Robespierre a faz parar por ter anunciado uma contra revolução e coloca desordem entre os citadinos. Aprisionada na ”Petite Force”, ela encoraja as mulheres aprisionadas predizendo a elas uma libertação próxima. Uma manhã, ela recebe uma carta vinda da prisão de Luxemburgo, era um pedido de horóscopo vindo de uma jovem prisioneira que se chamava Marie-Rose de Beauharnais. A predição levantava algumas dificuldades em razão da ausência de contato físico entre as duas mulheres e toda a conversa prévia. Supersticiosa , como são frequentemente as mulheres creoles. Joséphine (pois se tratava dela) queria conhecer seu futuro. finalmente Mlle Lenormand se pronuncia sobre o oráculo. ” O general de Bauharnais será vítima da Revolução. Você sobreviverá a seu esposo. Um segundo casamento é anunciado com um jovem oficial e que sua estrela teria um grande destino. A adivinha passa a ter a cliente ideal! E a imperatriz Joséphine a ela se tornaria fiel. O 9 Thermidor an II ( 27 Julho 1794) libera as duas mulheres. Sobre o diretório, Mlle Lenormand recebe novos consulentes: Barras, Tallien, Talma, David, o cantor Garat, Juliette Récamien, os primeiros imigrantes vindos à França, os compradores de bens nacionais.
Em 1795, Bonaparte, que sondava entrar ao serviço do Sultão, a teria consultado. Ela o teria dito ”Você não obterá a permissão do passaporte. Você será chamado a protagonizar um grande papel na França. Uma dama viúva fará vossa felicidade e o colocará em uma posição muito alta por conta de sua influência, porém, não seja ingrato com ela.”
Sobre o consulado e o Império;
Em seguida, sobre o consulado e o Império a sibila de Faubourg Saint-Germain, recebe muita gente, mulheres da alta sociedade ( madame de Staël ) militares, magistrados, atores, cantores. Era preciso se inscrever com semanas de antecedência para um atendimento e esperar por sua vez duas horas na sala de espera. Além do tarot e da borra de café, ela eventualmente recorria a outros métodos: reflexo de água no espelho, chumbo derretido, clara de ovos, chama de vela, fogo, fumaça, água, louro e sal. Ela tinha uma fábrica de vidência. Em caso de dificuldade na elaboração da síntese e se o consulente tivesse meios ou proeminência, a soma cobrada era de 500 francos. Ela levava uma vida social ativa, ia ao teatro onde tinha seu lugar reservado pelos consulentes. Em 2 de Maio de 1801, ela é convidada à ”La Malmaison” e anuncia a Joséphine grandes novidades ” Você será mais que uma rainha”.
Esta visita desagrada ao primeiro cônsul, pois ele temia as informações e as confidências de Joséphine à adivinha. é precisamente o que se produz logo depois. De fato, em 1803 na sequência de um indiscrição de Joséphine, Mlle Lenormand prediz ao general Moreau a prisão iminente de seu marido. Em seguida, sobre o campo de Bologna, ela profetiza a derrota de uma tentativa de desembarque na Inglaterra. O primeiro cônsul fica furioso. A pitonisa é aprisionada em 16 de dezembro de 1803, em Madelonnettes.
Ela é libertada 1º de Janeiro de 1804 , podendo ter sido graças a uma intervenção de Joséphine. Mas ela é doravante supervisionada pelos serviços de Fouché. Em Outubro de 1804, um relatório da polícia lembra suas atividades.
”Uma senhorita Lenormand se diz prima de Charlotte Corday (!), morando na rua de Tournon, trabalha como cartomante. Os imbecis de primeira classe a consultam de carro, as mulheres principalmente se reúnem lá. Ouvi fazerem contra esta intrigante, reclamações de fraude, que provam seu endereço; se assegura que a mulher de um capitão do exército de elite chamado Bloum fez mais de quatro mil francos em 18 meses, esta mulher está extremamente endividada sem o conhecimento de seu marido, ela está morta de desgosto há quatro dias.”
Os policiais estavam sempre lá à escuta. Mlle Lenormand recebe várias vezes o embaixador da Pérsia, que vinha com toda a sua equipe! Ele quer saber o que se passa com seu harém em Ispaham.
Em 5 de Março de 1808 em um relatório de polícia:
”Tem uma multidão na casa de Lenormand… M. de Metternich esteve sexta-feira, às três horas. Foi-lhe dito coisas bastante relativas sobre sua situação, seu caráter e seus negócios, a surpreendendo. Mme Junot, que se encontrava presente, aplicou os dizeres da cartomante em algumas palavras que S.M l’Impératrice endereçou, sobre a máscara à M. de Metternich, no baile dado por S.A.I à princesa Caroline. Mme Junot ouviu também bons prognósticos. Ela teria estado já na semana anterior com Mme Lallemand, Grandseigne e M. Caillé , todos quatro tendo retornado muito surpresos com as particularidades que lhes tinha dito a bruxa. ”
Em Outubro de 1808, depois do congresso de Eufurt, Joséphine repete ao Imperador as proposições de Lenormand, que desaconselha a política imperial contra Roma e de Saint Pères. Napoleão fica descontente mas como homem pragmático, ele mede a utilidade política da sibila e se limita a pedir a Fouché e a Talleyrand de recolher todas as informações possíveis.
Sobre as relações de Joséphine e de Mlle Lenormand, o barão de Méneval, secretário íntimo do Imperador, escreve;
”Napoleão não aprovaria essa fragilidade de Joséphine e ele mesmo frequentemente a ridiculariza. Eu fui testemunha da defesa de que Ele a intimou de ir consultar Mlle Lenormand. Ele mesmo pararia essa famosa malabarista.”
Joséphine envolvia sua relação com Mlle Lenormand no mais profundo mistério e nunca o mordomo saberia de suas despesas e não conhecia as somas que a Imperatriz pagava com as predições de cartomancia. No fim do ano de 1809, a questão do divórcio imperial levanta ainda dificuldades, 9 de dezembro Mlle Lenormand é convocada ao hotel da rainha Hortência, rua Cerutti ( hoje rua Pillet Will, em Paris 9eº) onde Joséphine e a sibila tem uma conversa íntima de mais de duas horas sobre o divórcio e suas perspectivas. Para contrariar essa agitação o poder imperial reagiu. Dia 11 de dezembro, pela manhã, Mlle Lenormand é presa em sua casa, ela é conduzida à delegacia de polícia, segundo o relatório da polícia:
” Prendemos Mlle Lenormand que exercia o métier  de adivinha. Quase toda a corte a consultava sobre as circunstâncias atuais ( o divórcio ) Ela fazia o horóscopo das mais importantes pessoas e ganha com isso mais de 20.000 francos por ano.”
Na prefeitura, ela asfixia os policiais com sua linguagem esotérica, recita suas profecias e sua megalomania, diante de Fouché que lhe diz:
  • -”Eu suponho que seus tarots vos teriam avisado de minha convocação.
  • – Não os meus tarots, meu horóscopo.
  • – Trégua com essa fraude, senhorita, a prisão a deixará sem dúvida, menos agressiva. E graças a mim você poderá ficar muito tempo.
  • – Não muito tempo, pois eu tirei um grande jogo, um ás de paus.
  • – E o que significa um ás de paus?
  • – Vosso iminente sucessor, excelência duque de Rovigo. – Fouché estremeceu.”
Após ter recusado uma colaboração com a polícia Mlle Lenormand é liberada doze dias mais tarde, dia 23 de dezembro de 1809.
Em 1810, ela recebe a visita de uma moça, Dorothée, filha da princesa de Courlande ( futura duquesa de Dino) que acabara de se casar com o conde Edmond de Talleyrand- Périgord, sobrinho de Talleyrand.
Nós temos seu testemunho consignado em 1831, em Londres, nas suas recordações da época, a cartomante teria premeditado sua separação com seu marido e em seguida previu uma vida social surpreendente e que haveria um homem do estado em vista ( era Talleyrand ).
Em 1814, o csar Alexandre vem a consultar. Ela prediz o futuro pelo seu espelho. Sobre a restauração (1815) sua sala de espera não se esvazia. O regime político muda, a sibila continua. Ela obtém até a proteção da princesa Bragation.
Em 1818 depois do congresso  de atribuições européias, ela se rende à Aix-la -Chapelle, ela considerava que os diplomatas tinham necessidade de suas predições.
Na primavera de 1821, ela se muda novamente, ela vai à Bruxelas onde ela quer exercer suas atividades. Mas no dia 13 de Abril, o procurador do Rei a persegue por fraude. Ela é pega dia 18 como uma cigana comum e é condenada a um ano de prisão pelo tribunal de Louvain.
Alega-se farsa e ela é condenada somente a pagar 15 francos de multa, por exercer o métier de adivinha. Aliviada, ela retorna a Paris, na rua de Tournon ( Agosto de 1821 ).
Seu físico mudara, a idade havia tornado sua pele avermelhada e seu sedentarismo havia tornado suas formas mais opulentas. Seus recursos lhe davam permissão de comprar imóveis em Alençon ( onde ela ia muitas vezes por ano rever sua família), em Paris ( rua de la Santé ), terras de cultivo e vinhedos a oeste da comuna de Poissy ( Yvelines ) , enfim uma casa de campo em 1811 ( Castelo de la Coudraie ?) perto de Paris.
Ela se lança à atividade de publicação de livros, publicando sucessivamente:  Souvenirs prophétiques d’une sibylle sur les causes secrètes de son arrestation, le 11 décembre 1809 (Paris, 1814) ; La sibylle au tombeau de Louis XVI (1816) ; Oracles sibyllins (1817) ; La sibylle au congrès d’Aix-la-Chapelle (1819) ; Mémoires historiques et secrets de l’Impératrice Joséphine (1820).
Nessa última obra, Mlle Lenormand pretende que a fantasia de Joséphine lhe teria pedido para redigir suas memórias. O livro escrito de uma forma empática e difusa levanta protestos!
Eugène de Beauharnais escreve ao czar Alexandre para protestar contra a dedicatória que ele havia concedido no cabeçalho do livro. A Rainha Hortência protesta igualmente” Uma pretensiosa bruxa inventou sobre minha mãe as mais absurdas memórias”. (Journal de O’Meara, Fondation Napoléon, 1993, tome 1, p. 464, note 399).
Mlle Avrillon estrangula-se de indignação, ela disse que Joséphine nunca fora amiga de Mlle Lenormand, mas ela reconhece que ela mesma a consultou na rua de Tournon.
Em Saint-Hélène Napoleão traz também um julgamento severo e reprovador sobre as pretensas memórias de Joséphine (Journal de O’Meara, Fondation Napoléon, 1993, tome 1, p. 464, note 399).
Na política, Mlle Lenormand não aprova a Monarquia de Julho, ela permanece carlista. Em 1840 ela deixa a rua de Tournon e se instala na rua de la Santé  (Paris, 13e).
Ela morre lá, dia 25 de Junho de 1843, na idade de 71 anos, logo após uma crise cardíaca ( sua previsão de morrer com 115 anos não se realiza ).
Seu funeral é celebrado no dia 27 de Junho de 1843, uma multidão imensa se apressava nos portões de Saint-Jacques-du-Haut-Pas. A Igreja foi pintada de branco. Numerosas pessoas choravam, cada uma com uma vela na mão. Depois do serviço religioso, o carro fúnebre guiado por quatro cavalos e seguido de um longo cortejo onde haviam muitas mulheres, mas também personalidades ( um consulente regular da vidente: Guizot, então ministro dos negócios estrangeiros, com vestimentas pretas. Pega-se lentamente o caminho do Cemitério du Père-Lachaise. A sibila é enterrada na terceira divisão, no caminho principal, quarta linha, (Répertoire mondial des souvenirs napoléoniens, p. 293). Até os dias atuais seu túmulo está sempre repleto de flores.
A fortuna de Mlle Lenormand era bastante roliça. Ela havia deixado a uma de suas sobrinhas 300.000 francos e deixou a seu sobrinho oficial do exército da áfrica, 500.000 francos em propriedades imobiliárias.
O que concluir sobre Mlle Lenormand? Se se tratava de uma adivinha, as opiniões são compartilhadas, alguns acreditam na adivinhação, outros não acreditam ou duvidam.
Em Saint-Hélene, dia 19 de março de 1817, Napoleão disse que era melhor procurar o maravilhoso na religião, em vez de…
" Cagliostro no Miss Lenormand , os adivinhos ou valetes " ( Journal of O'Meara , vol . 1, p. 35 )
E então ?
Antes de morrer, Mlle Lenormand havia predito ao príncipe Louis Napoléon, ainda aprisionado no forte de Ham: ” Descendente da grande águia, tenha paciência. Seus grilhões irão cair. O reino será novamente um Império. Mas a espada é muito pesada em sua mão.”
Nesse caso, a predição estava correta.
Fontes: Michaud, Biographie universelle, tome 24, p. 137 ; Dictionnaire Napoléon, p. 1067, notice Lenormand, par J. Tulard ; p. 1848 (supplément) rubrique « Superstitions », par E. Mozzani ; Historia hors série n° 34, 1974, p. 60, « Mlle Lenormand », par André Versannes ;Historia n° 466, octobre 1985, p. 90, « Marie Lenormand », par Jean Mabire ; Historia n° 649, janvier 2001, p. 64, « Mlle Lenormand, dans les petits papiers de Joséphine », par Éloïse Mozzani ; L’Histoire pour tous, « Mlle Lenormand », par Denis Dalbian ; J.-P. Tarin, Les notabilités du Ier Empire, leurs résidences en Ile-de-France, C. Terana éditeur, 2002, p. 607.
 Tradução por Lilian Zahírah
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