segunda-feira, 31 de julho de 2017

”A Arte” Thoth Tarot deck.



Aleister Crowley preencheu de complexidade e alquimia o arcano XIV, que denominou ”A Arte” e que é originalmente A Temperança.

Pra começar a descrever essa lâmina, deve -se considerar que pela astrologia esta se refere ao signo de sagitário, significando ”o arqueiro” portanto na ilustração vemos a representação da deusa Diana, a Caçadora. Sagitário está aqui representado pela seta que transpassa o arco íris, (a lâmina está ampliada para que se veja claramente toda a simbologia aqui representada).

”Diana é, em primeiro lugar, uma das deusas lunares, embora os romanos tenham produzido uma certa degradação da deusa a partir da “Artemis virgem” grega, que é também a Grande Mãe da Fertilidade, Diana dos efésios, a de muitos seios (uma forma de Ísis – ver Atu II e III). A conexão entre a Lua e a caçadora é indicada pelo formato do arco, e a significação oculta de Sagitário é a seta perfurando o arco-íris; os últimos três caminhos da Árvore da Vida compõem a palavra Qesheth, arco-íris e Sagitário porta a flecha que perfura o arco-íris pois seu caminho conduz da Lua de Yesod ao Sol de Tiphareth (esta explicação é altamente técnica, o que se justifica porque a carta representa uma importante fórmula científica, que não pode ser expressa em linguagem apropriada à compreensão comum). ” (Aleister Crowley 1944)

Esta seria a primeira alusão que Aleister Crowley fez a partir das simbologias entre Lua e Sol, de que esta carta se refere o tempo todo ao equilíbrio entre as energias de polaridades masculina e feminina. No entanto compreender a profundidade desses elementos é extremamente complexo, estamos lidando com estágios de compreensão cabalísticos, apenas propagado aos iniciados na ”Arte”, Yesod, a Lua das intuições que seriam o reflexo de  Thiphareth o Sol, quem penetra seus mistérios desperta para uma mente iluminada.


A ideia filosófica por detrás do personagem aqui representado de forma andrógina, seria a verdadeira união, e consequentemente o ideal de evolução da representação do Atu VI, ”The Lovers” que complementa ”A Arte” e é representada pelo seu oposto no zodíaco gêmeos.

the-lovers

As personagens aqui representadas como Rei negro e Rainha branca, e toda sua dualidade encontram-se em ”A Arte” de forma unida determinando o equilíbrio de que essa busca resultaria na compreensão de sua síntese.

”Esta carta representa a consumação do casamento real que ocorreu no Atu VI. Os personagens negro e branco estão agora unidos numa única figura andrógina. Mesmo as abelhas e as serpentes em seus mantos fizeram uma aliança. O leão vermelho tornou-se branco e cresceu em tamanho e importância, enquanto que a águia branca, semelhantemente expandida, tornou-se vermelha. Ele trocou seu sangue vermelho pelo glúten branco dela ( só é possível explicar estes termos a estudantes avançados de alquimia). ”(Aleister Crowley 1944)

A Alquimia a que se refere, é a transformação do sangue ”rubedo” na linguagem dos alquimistas, que significa a vida dentro de seus sofrimentos vivenciados na carne, para um estado purificado e branco, renascer em ”albedo” ou seja a brancura que é refletida pela luz solar.

”O equilíbrio e a permuta são efetuados completamente na própria figura: a mulher branca possui agora uma cabeça negra, o rei negro, uma branca. Ela usa a coroa de ouro com 81 uma faixa de prata, ele, a coroa de prata com uma fita de ouro, mas a cabeça branca à direita é prolongada na ação por um braço branco à esquerda que segura a taça do glúten branco, enquanto que a cabeça negra à esquerda tem o braço negro à direita segurando a lança que se tornou uma tocha e verte seu sangue ardente. O fogo queima a água, a água extingue o fogo.” (Aleister Crowley 1944)

Aqui Aleister inseria os elementos de troca e assimilação, que sempre simbolizaram originalmente a lâmina ” A Temperança” onde nas tradicionais ilustrações vê-se um anjo que sefura um vaso em cada mão e os derrama um no outro, fazendo dessa forma a troca de substâncias opostas para que estas atinjam um estado de harmonia e que guarda muitas semelhanças com o processo de individuação, baseado nas pesquisas clínicas de Jung, que seria a integração do indivíduo como ser único, que visa alcançar o verdadeiro sentido de sua existência, trabalhando os arquétipos de pai e de mãe, alcançando dessa forma uma integração total entre ego e self, persona e sombra.

”Na base desta carta, por exemplo, são vistos o fogo e a água misturados harmoniosamente. Mas isto é apenas um símbolo rudimentar da idéia espiritual, que é a satisfação do desejo do elemento incompleto de um tipo em satisfazer sua fórmula por assimilação de seu igual e contrário.” (Aleister Crowley 1944)

”Este estado da Grande Obra portanto consistia na mistura dos elementos contraditórios num caldeirão. Este é aqui representado como dourado ou solar, porque o Sol é o Pai de toda a Vida e (particularmente) preside a destilação. A fertilidade da Terra é mantida pela chuva e o sol. A chuva é formada por um processo lento e suave e é tornada efetiva pela cooperação do ar, que é ele mesmo alquimicamente o resultado do casamento do fogo e a água. Assim, também a fórmula do prolongamento da vida é morte, ou putrefação. Aqui é simbolizado pelo caput mortuum sobre o caldeirão, um corvo pousado sobre uma caveira. Em termos de agricultura, isto é a terra inculta.” ( Aleister Crowley 1944)

O Sol segue como elemento masculino primordial à vida, a água da chuva como elemento primordial feminino nutre o solo que deve significar algo como sendo a própria vida, a vida mundana no caso, pois trata-se de uma reencarnação finita, representada pelo corvo, no final da vida um ciclo se encerra. O corvo é uma ave abutre que ao longo dos séculos adquiriu inúmeros significados e superstições que a atribuem como sinal de morte iminente, os árabes a denominam ”Abu Zajir” que significa ”O pai das profecias”.

”O arco-íris simboliza, além disso, um outro estágio no processo alquímico. Num certo período, como resultado da putrefação, observa-se um fenômeno de luzes multicoloridas (a “capa de muitas cores” que se dizia ter sido usada por José e Jesus, nas antigas lendas, se refere a isso. Ver também Atu 0, o traje de bufão do Homem Verde, redentor-sonhador).  Em síntese, o conjunto desta carta representa o teor oculto do ovo descrito no Atu VI. É a mesma fórmula, mas num estágio mais avançado. A dualidade original foi completamente compensada; mas depois do nascimento vem o crescimento; depois do crescimento, a puberdade, e depois da puberdade, purificação.” ( Aleister Crowley 1944)

Aqui novamente vejo muito fortemente a semelhança com o processo de individuação de Jung, pois Jung acreditava que o processo só era possível em uma idade mais madura, muito próxima dos quarenta anos, quando a alma sente ser necessária sua integração.

 ”O estágio final da Grande Obra é, portanto, prenunciado nesta carta. Atrás da figura, estando suas bordas coloridas com o arco-íris que agora emergiu dos arco-íris gêmeos formadores da capa da figura, há uma auréola encerrando a inscrição VISITA INTERIORA TERRAE RECTIFICANDO INVENIES OCCULTUM LAPIDEM (“Visita as partes interiores da terra: pela retificação tu descobrirás a pedra oculta.” Suas iniciais formam a palavra V.I. T. R. I. O. L., o solvente universal, do qual se tratará na seqüência (seu valor é 726 = 6 x 11 = 33 x 22).” ( Aleister Crowley 1944)



le-grand-ouvre

 *”A Grande Obra” alquímica, determina dessa forma que no Atu XIV, ela se completa a partir da transformação de todos os seus elementos, se complementando e se depurando. No Atu VI, ela continha em essência a estrutura para se alcançar esse estágio avançado. Porque buscamos o tempo todo equilibrar nossas existências nos pautando pelo apoio de nossos opostos complementares, aqui encontramos finalmente a junção e complementaridade dentro de nós mesmos, em essência somos completos e devemos nos aprimorar afim de que alcancemos um dia esse estado de plenitude do Atu XIV. Chegamos ao ponto ideal do equilíbrio andrógino, temos as polaridades Yin e Yang em harmonia, somos completos.



 *A Grande Obra (do latim Magnum Opus), em Thelema, é o processo da consecução do Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião e aprendimento e cumprimento da Verdadeira Vontade. O conceito se origina da Alquimia medieval, e chegou a Thelema através da Magia Hermética informada pela Qabalah.

Thelema.org.br

 Texto por Lilian Zahírah

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